segunda-feira, 6 de setembro de 2010

MISSA NO ANIVERSÁRIO DE IMPERATRIZ

Apesar do atraso de quase dois meses, tive acesso (finalmente) às fotos da missa celebrada na Igreja Matriz Santa Teresa D'Ávila pelos 158 anos de fundação da cidade de Imperatriz, Maranhão, no dia de Nossa Senhora do Carmo, 16 de julho.
Em 1852, na mesma data, chegavam às margens do rio Tocantins o frade carmelita Frei Manoel Procópio do Imaculado Coração de Maria e os colonos que fundaram a Vila de Santa Teresa, origem da atual cidade.
A Santa Missa foi celebrada pelo Pe. Tarcísio Cardoso da Silva, vigário da referida paróquia matriz da cidade. As fotos deixam transparecer a beleza e solenidade da celebração. Pe. Tarcísio é conhecido por seu amor à liturgia da Igreja. Bem... as imagens falam mais alto.

A igreja matriz antes da celebração:


Apresentação das oferendas:


Comunhão:



Voltando...

Estou de volta!
Depois da última postagem em julho (!!!!!)  e após infindáveis problemas com a internet e com a disponibilidade de computadores para preparar novos posts, venho dizer que no dia que der certo (sabe-se lá quando!) publicarei os prometidos textos sobre os ministérios litúrgicos na Igreja.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

ACOLITATO: A SERVIÇO DO ALTAR DO SENHOR

Hoje, às 19h00, na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, de Cidelândia - MA, serei instituído acólito por Dom Gilberto Pastana de Oliveira, meu bispo diocesano. Por causa disso, na próxima semana, ao voltar a postar, tratarei um pouco das antigas "ordens menores", e dos atuais ministérios de leitor e acólito. Aguardem!

quinta-feira, 8 de julho de 2010

MESA "PROLONGANDO" O ALTAR? - "NÃO!!!", responde Congregação do Culto Divino

 
"LA TAVOLA DELL'ULTIMA CENA"



          A imagem acima retrata a Missa da Ceia do Senhor, na Quinta-feira Santa, em uma igreja francesa. Pode parecer estranho, mas colocar este "prolongamento" do Altar na nave central da igreja tornou-se um costume em alguns lugares. Isso quando é "prolongamento", pois algumas vezes a tal mesa serve de altar, embora haja um Altar verdadeiro na igreja. 
          Mas não se vê tal disposição apenas na Quinta-feira Santa, mas também nas missas de Primeira Comunhão e outras, para incentivar a "participação" e "reproduzir" a "mesa da última ceia" do Senhor. Sem contar as "mesinhas" colocadas ao lado do altar, cheias de pão, galhetas de vinho, cachos de uva e trigo, tão ornamentadas que o altar fica esquecido...

          Navegando pela internet hoje, encontrei no site da Conferência Episcopal Italiana uma resposta da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, datada de 2008, que trata justamente de tal "arranjo". Antes que o costume se espalhe entre nós, que tal divulgar a resposta do discastério vaticano? Aí vai a minha tradução do texto, que pode ser encontrado no site da CEI, com o nome "Tavola in medio ecclesiae.doc".


CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS
Notitiae vol. 38 (2002) 492

Pergunta:
É possível predispor uma mesa com pão e vinho no meio da igreja próxima ao altar ou no presbitério por ocasião da Missa "na Ceia do Senhor" ou da primeira plena participação na Eucaristia, dita "primeira Comunhão"?

Resposta: Não.
As normas vigentes sobre a matéria afirmam de modo claro a importância que se deve atribuir ao altar, cuja posição deve fazer com que toda a comunidade volte a sua atenção para ele: "Convém que em cada igreja haja um altar fixo, que significa mais claramente e permantemente Jesus Cristo, pedra viva (1Pd 2,4; cf. Ef 2,20); nos outros lugares, destinados às sagradas celebrações, o altar pode ser móvel. O altar se diz fixo se é construído de tal modo que se ligue ao pavimento e não possa, portanto, ser removido; se diz, ao contrário, móvel se é possível transportá-lo" (Introdução Geral do Missal Romano, [n.b.: 3ª edição típica], n. 298).

Daqui resulta, portanto, que é necessário um só altar, a parte mais importante do presbitério e de toda a igreja, de modo que sua singularidade favoreça a participação dos fiéis: "Nas novas igrejas construa-se um só altar que signifique à comunidade dos fiéis o único Cristo e a única Eucaristia da Igreja. Nas igrejas já construídas, quando o altar antigo é disposto de modo a dificultar a participação do povo e não pode ser removido sem danificar o valor artístico, se construa um outro altar fixo, realizado com arte e devidamente dedicado. Somente sobre este altar se realizem as celebrações sagradas. O altar antigo não venha ornado com particular cuidado para não subtrair a atenção dos fiéis do novo altar" (Instrução Geral do Missal Romano, n. 303).
O uso, portanto, de predispor uma mesa com o pão e o vinho para a memória da Última Ceia de Jesus ou para dispor as crianças durante a primeira participação eucarística é simbolicamente uma repetição, pedagogicamente uma distração e pastoralmente algo de inconsistente, pois distrai o povo do altar, atrapalha a percepção da importância de cada elemento da arquitetura da Igreja e não favorece de fato a participação dos fiéis (grifo nosso).

Ah, se nossas equipes de liturgia lembrassem disso!!! Não teríamos mais as mesinhas da "Última Ceia" ao lado do altar... nem o pão de padaria colocado por ali (quando não sobre o altar!),  que de "símbolo" passa a anti-símbolo, pois destrói o significado das espécies eucarísticas, e serve apenas para ser comido por coroinhas, leitores e comentaristas após a celebração...

De volta!

Depois de uma longa pausa, devido a problemas com a internet do Seminário e aos empenhos da faculdade e da pastoral da saúde, volto a postar no blog.


 Durante estas férias pretendo publicar uma série de artigos a partir de um excelente livro de história da liturgia, do abade italiano Mario Righetti. Em breve!

Por enquanto, para reinaugurar o blog, uma pequena notícia...

domingo, 14 de março de 2010

LAETARE, JERUSALEM - IV Domingo da Quaresma



O IV Domingo da Quaresma é chamado de "Laetare". Esta é a primeira palavra da antífona de entrada da missa deste domingo: "Laetare, Jerusalem". "Alegra-te, Jerusalém!" (cf. Is 66,10-11).

É um dos dois únicos dias em que o Missal Romano prevê a possibilidade do uso de paramentos róseos. A cor é expressão visível da alegria que inunda toda a celebração litúrgica, ao aproximar-se a Páscoa da Ressurreição.

A origem da cor rósea está relacionada à bênção das rosas. De início, tratava-se de rosas naturais. Este domingo situa-se próximo do início da primavera no hemisfério norte (haja vista que a Páscoa ocorre no domingo após a primeira lua-cheia da primavera) e, por isso, os cristãos tinham o costume de presentear-se com as primeiras rosas da estação. Depois este domingo foi relacionado à bênção da Rosa de Ouro pelo Papa, como veremos a seguir. Os ritos foram simplificados, mas a Rosa de Ouro ainda é comumente entregue pelo Santo Padre como sinal de apreço. Um exemplo é a Rosa de Ouro que o Papa Bento XVI ofereceu à Basílica Nacional de Nossa Senhora Aparecida durante sua visita em maio de 2007.

Meditando na oração de bênção da Rosa de Ouro apresentada por D. Prósper no texto abaixo, podemos perceber o profundo sentido espiritual que se pode alcançar da cor dos paramentos e desta referência às flores: a Páscoa é a primavera espiritual do cristão, que o renova, revigora e faz exalar o bom perfume de Cristo. Além disso - como se percebe nas últimas frases da oração - a verdadeira rosa, a flor à qual a Liturgia faz referência neste domingo é o Cristo, o Lírio dos Vales, a Flor dos Campos que germinou no Tronco de Jessé.

Outro acento especial é a alegria. Somente na oração de bênção citada por D. Prósper podemos contar nove referências a alegria, felicidade, gozo, contentamento. É a alegria cristã, haurida na Ressurreição do Senhor pela participação nesta em nosso Batismo.

Cabe recordar que o Missal Romano atual afirma que neste domingo, além dos paramentos poderem ser de cor rosa, pode-se ornar o altar com flores e o órgão (ou outros instrumentos) pode voltar a soar nas igrejas, quase como uma antecipação das festas pascais.

Apresento, a seguir, a tradução que fiz de um texto de Dom Prósper Guéranger, OSB, um dos pais do movimento litúrgico, sobre a celebração deste IV Domingo da Quaresma. Além de apresentar a origem histórica da celebração, Dom Prósper oferece-nos também uma excelente meditação sobre o sentido espiritual deste dia.


QUARTO DOMINGO DA QUARESMA

Dom Prósper Guéranger ("O Ano Litúrgico)

O domingo da alegria
Este Domingo chamado Laetare, da primeira palavra do Intróito da Missa, é um dos mais célebres do ano. Neste dia a Igreja suspende as tristezas da Quaresma; os cantos da Missa não falam senão de alegria e de consolação; se faz ouvir novamente o órgão, que permaneceu mudo nos três Domingos precedentes; [... ]é consentido substituir os paramentos roxos com paramentos rosa. Os mesmos ritos já os havíamos visto praticarem durante o Advento, no Terceiro Domingo chamado Gaudete. Manifestando hoje a Igreja a sua alegria na Liturgia, quer felicitar-se do zelo de seus filhos; havendo eles já percorrido a metade da santa quaresma, quer estimular o seu ardor a prosseguirem até o fim.
A Rosa de Ouro
A bênção da Rosa é ainda hoje um dos particulares ritos do Quarto Domingo da Quaresma, por qual razão vem chamado também de Domingo da Rosa. Os graciosos pensamentos que inspira esta flor são em harmonia com os sentimentos que hoje a Igreja quer infundir nos seus filhos, aos quais a alegre Páscoa logo abrirá uma primavera espiritual, em confronto da qual a primavera da natureza não é senão uma pálida idéia. Também esta instituição remonta aos séculos mais distantes. A instituiu são Leão IX, em 1049, na Abadia da Santa Cruz de Woffenheim; e nos resta um sermão sobre a Rosa de Outro, que Inocêncio III pronunciou aquele dia na Basílica da Santa Cruz em Jerusalém (PL 217,393). Na Idade Média, quando o Papa morava ainda no Latrão, depois de haver abençoado a Rosa, seguia em cortejo todo o Sacro Colégio, rumo à igreja da Estação, levando na cabeça a Mitra e na mão esta flor simbólica. Chegado à Basílica, pronunciava um discurso sobre os mistérios representados pela Rosa por causa de sua beleza, a sua cor e o seu perfume. Então se celebrava a Missa; terminada a qual, o Pontífice retornava ao Palácio Laterantense, atravessando a esplanada que separa as duas Basílicas, sempre com a Rosa na mão. Chegado à porta do palácio, se no cortejo era presente um príncipe, cabia a ele conduzir as rédeas e ajudar o pontífice a desmontar do cavalo; em recompensa da sua cortesia recebia a Rosa, objeto de tanta honra.
Aos nossos dias a função não é mais tão imponente; mas lhes há conservado todos os principais ritos. O Papa abençoa a Rosa de Ouro na Sala dos Paramentos, a unge com o Santo Crisma e sobre ela espalha um pó perfumado, conforme o rito de um tempo; e quando chega o momento da Missa Solene, entra na Capela do Palácio, tendo entre as mãos a flor. Durante o Santo Sacrifício a rosa é colocada sobre o altar e fixada sobre um rosário de ouro feito para este fim; finalmente, terminada a Missa, ela é levada ao Pontífice, o qual ao sair da Capela a tem sempre entre as mãos até a Sala dos Paramentos. Muitas vezes o Papa costuma enviar a Rosa a qualquer príncipe ou princesa que deseja honrar; outros vezes é uma cidade ou então uma Igreja que é feita objeto de tal distinção.
Bênção da Rosa de Ouro
Damos aqui a tradução da bela oração com a qual o Soberano Pontífice abençoa a Rosa de Ouro: essa ajudará os nossos leitores a melhor penetrarem o mistério desta cerimônia, que acrescenta tanto esplendor ao quarto Domingo da Quaresma: “Ó Deus, que tudo criastes com a vossa palavra e poder, e que governais com a vossa vontade; Vós que sois o gozo e a alegria de todos os fiéis; suplicamos a vossa majestade que vos digneis abençoar e santificar esta Rosa de aspecto e perfume tão agradáveis, que nós devemos hoje em trazer entre as mãos, em sinal de alegria espiritual: para que o povo a vós consagrado, arrancado do jugo da escravidão da Babilônia com a graça do vosso Filho Unigênito, glória e alegria de Israel, exprima com coração sincero as alegrias da Jerusalém do alto, nossa mãe. E como a vossa Igreja, à vista deste símbolo, exulta de felicidade pela glória do vosso Nome, concede-lhe, ó Senhor, um contentamento verdadeiro e perfeito. Agrade-vos a sua devoção, absolve os seus pecados, aumenta-lhe a fé; abate os seus obstáculos e concede-lhe todo bem: para que a mesma Igreja vos ofereça o fruto de suas boas obras, caminhando atrás dos perfumes desta flor, a qual, surgida da planta de Jessé, é misticamente chamada a flor dos campos e o lírio dos vales; e que ela mereça gozar um dia a alegria sem fim na glória celeste, em companhia de todos os Santos, com a Flor divina que vive e reina contigo, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém”.


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FONTES:

GUÉRANGER, D. Prósper, OSB. L’anno liturgico: I. Avvento - Natale - Quaresima – Passione. Trad. it. P. Graziani. Alba, 1959. Disponível em: http://www.unavoce-ve.it/gueranger.htm. Acesso em: 13 mar. 2010.

KECKEISEN, D. Beda, OSB. Missal Quotidiano: completo / em português com o próprio do Brasil: edição B. 24.ed. Salvador: Beneditina, 1964. 

domingo, 7 de março de 2010

A Via-Sacra e a Piedade Popular



Neste tempo da Quaresma uma das mais difundidas manifestações da piedade popular é a Via-Sacra. É uma prática devocional muito querida de nosso povo, que faz memória da Paixão do Senhor acompanhando-o no percurso que vai do Horto das Oliveiras ao Monte Calvário e ao Santo Sepulcro. O testemunho principal de quanto este exercício é caro aos católicos são as inúmeras “Vias Sacras” erigidas nas igrejas, jardins e colinas ao redor do mundo.


Como surgiu a Via-Sacra? 


Durante a Idade Média as visitas à Terra Santa cresceram em número de viagens e de peregrinos. O homem medieval era, por excelência, o Homo viator, o viajante, o peregrino, que está neste mundo, mas caminhando para os céus. Este profundo sentimento de transitoriedade alimentou as práticas devocionais relacionadas às romarias. Jerusalém era, desde o início, um dos destinos favoritos.


Mas já desde o IV século há informações seguras de viagens de devotos aos Lugares Santos, para fazer penitência nos locais da vida terrena de Jesus. O relato mais conhecido é o da Peregrinação de Etéria (ou Egéria), que descreve os ritos litúrgicos da Igreja de Jerusalém ao longo de todo o ano, com ênfase para o Santo Tríduo.


A Via-Sacra é a expressão de todas as devoções medievais à Paixão do Senhor condensadas em uma única prática: peregrinação à Cidade Santa, devoção às “quedas” do Senhor, às suas dores no caminho (Via dolorosa), às “estações” (paradas) de Cristo rumo ao Calvário, etc.


Em sua forma tradicional, composta de XIV estações, a Via-Sacra estava formada já na primeira metade do século XVII. Ela foi difundida por toda a Europa principalmente pelo franciscano São Leonardo de Porto Maurício (1676-1751).


Este santo frade impunha-a muitas vezes como penitência sacramental e erigia as suas estações em todas as missões que pregava. Ao final de sua vida contam-se, apensa na Itália, 571 povoados nos quais S. Leonardo estabeleceu a Via Crucis.


Mesmo em Roma deve-se a este santo a popularidade deste pio exercício. Se hoje o Santo Padre, o Papa, na noite da Sexta-feira Santa, percorre a Via-Sacra no Coliseu é porque São Leonardo, no Ano Santo de 1750, conseguiu que o papa Bento XIV lhe permitisse erigir a Via Crucis ali. Ele escreveu à época: “Estou ficando velho. (...) De toda maneira, consola ver que o Coliseu deixou de ser um lugar de atração para converter-se em um verdadeiro santuário...".


Espiritualidade da Via-Sacra 


A Via-Sacra contém em si os elementos fundamentais de várias expressões da espiritualidade cristã. Ora, se “espiritualidade” é a busca de viver impulsionado pelo mesmo espírito de Jesus, então a Via Crucis, como imitação do caminho do Calvário, conduz os fiéis a imitarem também sua entrega amorosa, no mesmo espírito de doação e sacrifício de Cristo.

Ela resume também a espiritualidade da peregrinação, do Homo viator, como já dissemos: a vida é caminhada, é o percorrer as estradas desta vida rumo à Pátria definitiva. Mas é também expressão visível da Sequela Christi, do seguimento de Cristo: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me” (Lc 9,23). Mais do que a imitação teatral, trata-se de – também por expressões externas, mas antes de tudo internas – assumir espiritualmente a cruz do discipulado e da missão.

Isto nos é recordado na oração de bênção das estações da Via-Sacra: 


Ó Deus, o vosso Filho foi entregue por nós e ressuscitou, para que nós, morrendo ao pecado, vivêssemos para a justiça; vinde, pela graça da vossa bênção, conceder a estes fiéis, que celebram o piedoso exercício da vossa paixão, carregando sua cruz com paciência, possam alegrar-se, um dia, com a revelação da vossa glória. Por Cristo, nosso Senhor. Amém. (Ritual de Bênçãos, Cap. XXXIV, n. 1109).

Algumas orientações da Igreja


O pio exercício da Via-Sacra é uma devoção aprovada oficialmente pela Igreja, recomendada aos fiéis e enriquecida com indulgência plenária. Para isto, e para que ela produza adequados frutos espirituais, a Igreja nos oferece algumas instruções:
  • A Via-Sacra deve conter quatorze cruzes, que podem ser acompanhadas ou não de imagens/quadros que recordem as cenas do caminho da Paixão (cf. Ritual de Bênçãos, Cap. XXXIV, n. 1098; cf. CNBB, Manual das indulgências, “Via-Sacra”).
  • As meditações de cada estação não precisam ser as tradicionais, mas podem-se utilizar outros textos aprovados, desde que digam respeito a episódios evangélicos da Paixão do Senhor (deve-se recordar que algumas estações provêm da Tradição, não sendo narradas nos Evangelhos, como, por exemplo, a cena de Verônica; cf. Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Diretório sobre piedade popular e liturgia, n. 134);
  • O movimento (caminhar), seja de todos os devotos, seja do dirigente apenas, é imprescindível para que o sentido espiritual da Via-Sacra seja experimentado. “Um desenvolvimento sábio da Via-Sacra, em que palavra, silêncio, canto, caminhar processional e parada reflexiva se alternem de modo equilibrado, contribui para a consecução de frutos espirituais dessa prática de piedade.” (Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Diretório sobre piedade popular e liturgia, n. 135).

Há ainda outro ponto. Muitos subsídios para este pio exercício acrescentam uma XV estação, que faz memória da Ressurreição. Ao contrário do que se poderia imaginar, tal prática não é abusiva, mas aprovada e, de certo modo, recomendada pela Igreja. Citamos novamente o Diretório (n. 134): 


A Via-Sacra é a prática de piedade relativa à Paixão de Cristo; entretanto, é oportuno que se conclua de tal maneira que os fiéis se abram à espera, cheia de fé e de esperança, da ressurreição; a exemplo da parada na Anástasis, no final da Via-Sacra em Jerusalém, pode se encerrar a prática de piedade com a memória da ressurreição do Senhor.

De fato, já a “Peregrinação de Etéria” (séc. IV) faz referência a tal statio na Anástasis (o Santo Sepulcro) após a memória da Paixão do Senhor na Sexta-feira Santa.

E os pés descalços?


Em nossa Diocese o exemplo de Dom Gilberto durante a Via-Sacra na manhã de Sexta-feira Santa na Catedral de Fátima chamou a atenção de muitos. Fazendo o piedoso exercício com os pés descalços, Dom Gilberto levou muitos católicos a fazerem o mesmo. Mas qual a origem deste gesto?

A origem remota é a celebração da Sexta-feira da Paixão do Senhor em Roma. O imperador Constantino, após a descoberta dos restos da Cruz de Cristo por Santa Helena, sua mãe, transformou o palácio em que ela residia em igreja. É a atual Basílica de Santa Cruz em Jerusalém, em Roma. Durante séculos foi nela que o papa celebrou a liturgia da Paixão (era a statio desse dia).

Para essa celebração, na qual as relíquias da Santa Cruz eram veneradas, o papa dirigia-se em procissão, acompanhado dos cardeais e demais membros do clero romano, com os pés descalços.

Este costume foi estendido para todo o rito romano. Até a publicação do Missal de Paulo VI (1969), todos os presbíteros e bispos (e, por costume, também os diáconos e subdiáconos) faziam a veneração da Cruz descalços. Hoje esse gesto ainda é previsto pelo Cerimonial dos Bispos (n. 322):  o bispo, retirando a casula e, se considerar oportuno, os sapatos, aproxima por primeiro para a veneração da cruz. É uma cena profundamente marcante ver um bispo ou o papa retirar os paramentos e os calçados, para com toda humildade adorar no madeiro quem despojou-se de sua glória para nos salvar. 

Que nesta Santa Quaresma ao participarmos da Via-Sacra em nossas comunidades, estejamos imbuídos do espírito de doação e entrega de Cristo, do desejo de segui-lo até as últimas consequências, do arrependimento sincero de nossos pecados que fizeram pesar a cruz de nosso Senhor e, também, de solidariedade com os sofredores de nosso tempo.

Uma nova experiência na Internet

Em sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais deste ano de 2010 o Papa Bento XVI convida todos os sacerdotes a utilizarem a Internet a serviço do anúncio da Palavra de Deus. Ou seja, não há motivos para evitar o uso da rede mundial de computadores por causa daquilo que há de errado e contrário à Fé e à Moral nela. É exatamente por isso que a Igreja, todos os cristãos, e também os sacerdotes, devem utilizá-la de maneira adequada, como ferramenta para seu múnus pastoral.

Acolhendo o convite do Santo Padre, como seminarista, inauguro com este post minha presença na blogosfera. Depois do Orkut e Facebook, para manter contato com os amigos e familiares, e do Twitter, para difundir notícias interessantes e pensamentos breves, apresento-me também neste Blog, trazendo algumas reflexões e estudos pessoais, bem como artigos e entrevistas publicados nos media ao redor do mundo relacionados à Teologia, Pastoral e Espiritualidade Litúrgicas. O objetivo não creio que seja muito pretensioso... logicamente não pretendo ser "doutor" em Liturgia. As minhas reflexões pessoais serão sempre fruto do estudo e da pesquisa. As reflexões, entrevistas e artigos de outros serão de estudiosos (alguns realmente doutores) da Sagrada Liturgia. Busca-se, como dito no perfil, contribuir para a Ars Celebrandi em nossas liturgias. Não resisto a dizer: tomara que sirva!

Neste tempo da Quaresma inicio com um post sobre a história e a espiritualidade da Via Sacra.